
O dom de Deus por excelência, o Espírito Santo, e todos os seus dons, estão sendo derramados sobre aqueles que não se fecham diante dele.
Melhor e mais detalhado do que qualquer outro escrito do Novo Testamento, são Paulo nos mostra nos capítulos 11 a 14 da 1ª carta aos Coríntios como na Igreja apostólica se celebrou a liturgia. Notemos que ele desenvolve sua teologia do corpo de Cristo e dos dons ou carismas do Espírito Santo dentro deste contexto litúrgico. Lembremos também que o apóstolo usa o termo “ekklesia” tanto quanto fala da Igreja como unidade dos cristãos ou corpo de Cristo, quanto das assembleias dos cristãos de Corinto (por exemplo: 1Cor 11,18.22; 12,28; 14,4.5.19.23.28.33-35). Deve ser claro também que são Paulo, sobretudo nos capítulos 12 e 14 desta carta pensa pelo menos em primeiro lugar, quando ele fala de ministérios, naqueles que nós chamaríamos litúrgicos.
Ora, todos os dons ou carismas, todos os ministérios, toda a vida e atividade da Igreja, especialmente da Igreja reunida em assembleia, vêm, para são Paulo, do Espírito Santo. Os dons são simplesmente chamados de dons do Espírito (12,1). É o mesmo Espírito que cuida da vida e do crescimento da Igreja, que lhe deu a vida. E, por outro lado, é neste Espírito que nós podemos chamar Jesus de Senhor (12,3).
Aquilo que são Paulo diz nesses capítulos aos coríntios sobre o Espírito Santo na liturgia, combina perfeitamente com outras afirmações dele sobre a presença e ação do Espírito Santo na Igreja. Lembremos, neste momento, apenas alguns textos que nos falam em geral, mas claramente da ação do Espírito Santo em relação à liturgia. Textos quase paralelos àquele no qual ele diz que não podemos dizer “Jesus é o Senhor”, a não ser no Espírito Santo (1Cor 12,3), encontramos nas cartas aos Romanos (8,15) e aos Gálatas (4,6), onde lemos que podemos chamar Deus de Pai porque recebemos o Espírito de filiação. Este Espírito nos foi dado no batismo, e é sobretudo na celebração litúrgica que chamamos Deus de Pai. No mesmo capítulo da carta aos Romanos são Paulo escreve: “Não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis, e aquele que perscruta os corações sabe qual o desejo do Espírito; pois, é segundo Deus que ele intercede pelos santos” (8,26s). Em todo o caso, já a partir desses textos de são Paulo podemos chegar à conclusão de que ele escreve com plena razão na carta aos Filipenses: “Prestamos culto pelo Espírito de Deus” (3,3).
Resta ainda fazer uma referência à relação da liturgia com a vida dos membros da Igreja, da sociedade e do mundo. Encontramos um exemplo eloquente, para nos mostrar como são Paulo vê esta relação, em 1Cor 11,17-34. É bom lembrar que, imediatamente após esse texto, seguem as explicações de são Paulo sobre o corpo de Cristo e os múltiplos dons do Espírito Santo, que visam à união e à edificação da comunidade. São Paulo repreende os coríntios não porque fizessem eventualmente algo de errado na celebração da eucaristia como tal, mas porque eles não vivem aquilo que celebram: a união dos membros do corpo de Cristo e o amor fraterno, que são dons exímios do Espírito de Deus para a edificação da Igreja. Os coríntios procuram o próprio proveito e não se doma semelhança de Jesus, que se entregou na última ceia e no seu amor até o fim.
Nesse contexto, podemos ainda lembrar que são Paulo usa o termo “liturgia” geralmente no sentido de uma obra de caridade (Rm 15,27; 2Cor 9,12; Fl 2,25.29s) ou para o ministério do evangelizador (Rm 15,16; Fl 2,17). Nesse último texto da carta aos Romanos são Paulo se apresenta como “‘liturgo’ de Cristo Jesus para os gentios, a serviço do evangelho de Deus, a fim de que a oblação dos gentios se torne agradável, santificada pelo Espírito Santo” (Rm 15,16). São Paulo diz, portanto, que só pela ação do Espírito Santo também a “liturgia” da vida é um sacrifício agradável a Deus. Mas é precisamente nisso que são Paulo vê o último sentido da sua missão como da missão de todos os cristãos: “Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e imaculada a Deus: este é o vosso culto espiritual” (Rm 12, 1). E era exatamente esta a missão de Jesus, do Servo do Senhor, sobre o qual repousava o Espírito de Deus, para que evangelizasse os pobres. Foi este sacrifício espiritual que Jesus completou na cruz e que ele nos mandou viver na vida e celebrar na liturgia.
Depois do que refletimos sobre o Espírito Santo na liturgia, não podemos mais duvidar da presença do Espírito Santo em nosso coração, no coração da Igreja e do mundo, sobretudo quando estamos reunidos na celebração da liturgia. O dom de Deus por excelência, o Espírito Santo, e todos os seus dons, estão sendo derramados sobre aqueles que não se fecham diante dele. Também e, sobretudo, na liturgia podemos continuar nossa caminhada com o nosso grande defensor e consolador, cheios de esperança.
http://catholicus.org/o-espirito-santo-na-liturgia/
O Espiríto Santo na Liturgia